sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

MEU EPITÁFIO


“Hoje sai de cena alguém que fez da vida um espetáculo. Não se omitiu de seus direitos, deveres e defeitos de homem. Viveu com arte, alegria, companheirismo, intensidade e incrível maestria. Fez do riso uma marca, das letras um estandarte, do teatro um símbolo, da Pátria um ideal. Seu brilho, propositadamente, nunca ofuscou o brilho de outrém. Sua luta nunca foi destrutiva, vã. Como todo homem, conquistou vitórias e amargou derrotas, mas sempre aprendeu com as duas.
Foi sucesso de bilheteria e fracasso de crítica. Foi amante da boa música, do bom humor, das boas causas, das grandes idéias, da verdade absoluta, das sólidas amizades, das boas companhias e das belas mulheres. Na família, onipresente como pai e dedicado como esposo. Na sociedade foi modesto profissional, mas abnegado cidadão. Como criatura, foi soberbamente humilde, fraterno, solidário e temente a Deus.
Como muitos, foi perseguido, discriminado e ultrajado. Como poucos, doou, perdoou, confiou, respeitou e acreditou. Por fim, incansavelmente, como a maioria dos mortais, amou sem, no entanto, ser amado na medida em que esperava. O pó que agora retorna à terra, fez da caneta sua espada, do conhecimento sua armadura, do mundo justo sua utopia e da morte a sua derradeira glória”.

sábado, 9 de dezembro de 2006

A BATALHA DA GRADUAÇÃO



Discurso proferido pelo formando Sergio Silva, na Cerimônia de Colação de Grau da Turma do Curso de Letras/Inglês 2006, da Faculdade São Luís, realizada no dia 09 de dezembro, no Cine-Teatro Municipal de Jaboticabal/SP.

Quando fui laureado com a honra de nesta tribuna representar as três turmas de formandos do curso de letras, vislumbrei a oportunidade de expressar em breves palavras os sentimentos que nos envolveram e nos uniram durante o curso. Optei por não me prender a formalismos e academicismos, mas fazer uma analogia a um combate. É nessa ocasião em que homens das mais diferentes origens, personalidades e ideologias reúnem-se em torno de um mesmo propósito, um objetivo comum, um mesmo horizonte.
Dessa mesma maneira, cerramos as fileiras do vestibular e um a um, apresentamo-nos ao regimento das letras: essa foi a nossa primeira vitória. Imbuídos do espírito de luta, revestimo-nos da couraça de mestres, que semestralmente foi esquadrejada e solidificada. Decisões perenes e dessa envergadura não são fáceis de serem tomadas na vida de uma pessoa, sobretudo, na de um jovem, ainda repleto de esperanças, muitas vezes, utópicas e inseguras. Mesmo assim, sem medo das agruras do destino e dos inimigos, saímos confiantes, em marcha.
Com o pavilhão da educação em punhos, logo de saída, deparamo-nos com o primeiro adversário: a desistência. Foi difícil mantermo-nos no curso, enquanto com o avançar dos semestres e o tilintar das canetas, muitos de nossos colegas, por motivos diversos, abandonavam o campo de batalha e desfalcavam o nosso heterogêneo contingente.
Mesmo abatidos, concentramos os nossos esforços e estendíamos as mãos amigas àqueles que fraquejavam e aos novos guerreiros que se uniam a nós, dos mais diferentes recantos, histórias e vidas. O trabalho exigia muito, os estudos consumiam a energia da tropa. As manobras e as avaliações eram constantes, verdadeiros exercícios de guerra. Nossos comandantes, em seus mais variados níveis de hierarquia, conduziram-nos com sabedoria e pulsos firmes, na certeza da vitória vindoura. A luta era intensa; insana para muitos de nós.
O impressionante de todo este entrave é que uma única gota de sangue sequer foi derramada, embora o suor tenha irrigado exaustivamente os sulcos da face de muitos. Como verdadeiros soldados, nossas famílias esperavam pelo retorno dos filhos e filhas, esposos e esposas, namorados e namoradas. As tréguas davam-se nas férias, as quais tornaram-se um refúgio constante. Nelas pudemos reavaliar as nossas estratégias, traçar novas metas e repor a munição do conhecimento.
Como todo grande exército, sedentos de vitória, fomos ganhando terreno, agregando aliados e derrotando outros inimigos como a falta de tempo e recursos daqueles que trabalham, o cansaço e o esgotamento físico daqueles que viajaram diariamente. Com intenso amor e respeito a nossa pátria, simbolizada pela Língua Portuguesa, seguimos imbatíveis, determinados, certos de que a vitória era só questão de tempo.
O confronto final aconteceu com a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso e o término do Estágio Supervisionado. Somente esses obstáculos separavam os combatentes de sua maior meta: o diploma de graduação.  É por isso que hoje estamos aqui, mais uma vez, reunidos, em noite de gala, na cerimônia de condecoração dos vitoriosos. Aqui estão os soldados do ensino, prestando continência ao magistério, cientes de que a guerra em busca da paz, do ensino e da busca pelo conhecimento pode ser passageira, mas nunca infinita.
Perfilados nessa solene despedida, queremos entoar unissonamente o nosso hino à vitória; exaltar a importância de se continuar lutando e enfrentando os desafios e explicitar a nossa confiança no futuro desta nação, que passamos a construir a partir de agora, não mais como espectadores, mas como, coadjuvantes, através da couraça de professores, outorgada pelo diploma que ora empunharemos. Antes de recitar-lhes alguns versos de Fernando Pessoa, desejo-lhes sorte e coragem para as próximas e verdadeiras batalhas da vida e do ensino brasileiros.