Não se trata de preciosismo, mercenarismo ou extremo apego ao dinheiro. Pelo contrário! Trata-se de resgatar a prática dos filósofos sofistas que, ainda na Grécia Antiga, recebiam por suas atividades pedagógicas. Precisamos valorizar um trabalho que, como tantos outros é remunerado. Bem mal remunerado, diga-se de passagem. Contudo, receber pouco por ele é muito diferente de exercê-lo gratuita ou voluntariamente.
A Educação Pública Brasileira é gratuita até então, pois os ventos atuais prenunciam mudanças catastróficas e privatizantes nesta importante área social. Porém, o trabalho do professor não é e nunca foi gratuito. Ele é remunerado. Como tantos profissionais, os professores estudam e se preparam para exercerem suas atividades em sala de aula. São técnicos do conhecimento em diferentes áreas e disciplinas e recebem por isso.
A expressão "dar aulas" é por si só contraditória em sua essência. Segundo o senso comum nosso de todo dia, tudo o que é de graça não apresenta valor, qualidade,consideração ou apreço. Afinal, de graça, "até injeção na testa". Os professores, infelizmente, também assumiram para si a desvalorização pecuniária da sua profissão. Repetem incansavelmente esse mantra que ajuda a perpetuar o sucateamento educacional do país. Assumir inconsequentemente que dá aulas em nada ajudasse a prosperar o nosso tão baixo status, rebaixado ainda mais, a inimigo número um da nação, nos últimos tempos.
Como professor que buscamos a conscientização das pessoas acerca da importância do conhecimento e de nosso ofício perante às futuras gerações, faço coro à fecunda voz de Darcy Ribeiro: "a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto". Este projeto visa manter os professores cada vez mais "dando aulas" e não as comercializando, por um valor justo e por meio meio de uma relação trabalhista digna e saudável.
Eu não sei você, colega professor. O fato é que desde o início nunca dei aulas; sempre as vendi. Vendi-as por valores muito abaixo do que elas valem, é verdade. Mas, entre dá-las e vendê-las, há uma diferença abissal: aquela que valoriza o seu próprio trabalho e de sua tão fragilizada e combalida classe profissional.
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