quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Canção dos Cyberotários

Minha terra tem pessoas
que adoram digifofocar
falam disso e daquilo
sem sequer, poder provar

e no face elas passam
vergonha e dissabores
em debates e postagens
disseminam seus rancores

Sozinhas ou em grupo
elas vomitam ignorância
com ar de superioridade
adubada com arrogância

sem ter lido ou estudado
com o youtube se deformam
no twitter se academizam
e na unizap se formam

discutem com especialistas
gente fina e estudada
navegando só na superfície
da internet ignorantada

É tanta vergonha alheia
nos mais loucos comentários
a grande rede é terra livre
solo fértil para cyberotários






quarta-feira, 21 de agosto de 2019

NÃO DOU AULAS: EU AS VENDO!

Não se trata de preciosismo, mercenarismo ou extremo apego ao dinheiro. Pelo contrário! Trata-se de resgatar a prática dos filósofos sofistas que, ainda na Grécia Antiga, recebiam por suas atividades pedagógicas. Precisamos valorizar um trabalho que, como tantos outros é remunerado. Bem mal remunerado, diga-se de passagem. Contudo, receber pouco por ele é muito diferente de exercê-lo gratuita ou voluntariamente.
A Educação Pública Brasileira é gratuita até então, pois os ventos atuais prenunciam mudanças catastróficas e privatizantes nesta importante área social. Porém, o trabalho do professor não é e nunca foi gratuito. Ele é remunerado. Como tantos profissionais, os professores estudam e se preparam para exercerem suas atividades em sala de aula. São técnicos do conhecimento em diferentes áreas e disciplinas e recebem por isso.
A expressão "dar aulas" é por si só contraditória em sua essência. Segundo o senso comum nosso de todo dia, tudo o que é de graça não apresenta valor, qualidade,consideração ou apreço. Afinal, de graça, "até injeção na testa". Os professores, infelizmente, também assumiram para si a desvalorização pecuniária da sua profissão. Repetem incansavelmente esse mantra que ajuda a perpetuar o sucateamento educacional do país. Assumir inconsequentemente que dá aulas em nada ajudasse a prosperar o nosso tão baixo status, rebaixado ainda mais, a inimigo número um da nação, nos últimos tempos.
Como professor que buscamos a conscientização das pessoas acerca da importância do conhecimento e de nosso ofício perante às futuras gerações, faço coro à fecunda voz de Darcy Ribeiro: "a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto". Este projeto visa manter os professores cada vez mais "dando aulas" e não as comercializando, por um valor justo e por meio meio de uma relação trabalhista digna e saudável.
Eu não sei você, colega professor. O fato é que desde o início nunca dei aulas; sempre as vendi. Vendi-as por valores muito abaixo do que elas valem, é verdade. Mas, entre dá-las e vendê-las, há uma diferença abissal: aquela que valoriza o seu próprio trabalho e de sua tão fragilizada e combalida classe profissional.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

ESTAMOS EM LUTO




Numa pequena cidade chamada Eternidade, curiosamente, há mais de dez anos não falecia ninguém. A falta de defuntos e até mesmo candidatos a tal, trouxe enormes prejuízos para os negócios de Vivaldo, o dono da modesta funerária Só Falta Você, único empreendimento mortuário do município.
O proprietário - que por sinal era muito mesquinho - andava repleto de pendengas com os seus credores devido a ausências de mortes na localidade. O homenzinho vivia agourando os doentes, torcendo para que agravassem seus estados de saúde e findassem suas jornadas na terra. O tal empresário incitava desentendimentos, brigas e desavenças pelos bares e ruas da cidade, a fim de que alguém com sangue nos olhos desse cabo em outrem. Como se não bastasse, bastava saber de um moribundo, no morre-não-morre, que Vivaldo recorria a rezas e simpatias para apressar a passagem desta para melhor, de um próximo e eventual freguês.
O fato é que por ali o tempo passava, mas não a morte. Nem mesmo os desenganados pelos médicos desencarnavam em Eternidade. No auge do seu desespero, Vivaldo teve o disparate de procurar o prefeito – autoridade máxima local - e propor a descabida ideia de se limitar, por meio de uma macabra lei, o prazo de vida dos munícipes, o qual não deveria ultrapassar 70 anos, sob o pretexto de se economizar assim, verbas da saúde e de demais setores da administração municipal.
Ciente dos danos político-eleitorais, que o nefasto decreto e a tresloucada e antipática medida traria, caso fosse implantada, o prefeito foi mais vivo que Vivaldo, e não quis saber de morte em seus despachos. Mas, tamanha era a obsessão daquele homem por um cadáver, que sua ânsia o consumia vorazmente. Ao final de cada expediente, sem ninguém para enterrar, dia após dia, o homem foi se afundando em tristeza. Vivaldo foi definhando, definhando, definhando. Primeiro o sorriso lhe sumiu do rosto. Depois, a voz da garganta. Em seguida, a força das pernas e, por fim, a pouca lucidez que ainda lhe restara na mente.
Não houve outro jeito a não ser internar Vivaldo às pressas. Pouco tempo, após o seu ingresso no hospital da cidade, morria de causas desconhecidas o fúnebre agente daquela cidade. Por ironia ou capricho do destino, a morte encerrou os mórbidos negócios do mais recente defunto, após tantos anos. De funerarista a cliente: eis o fim de Vivaldo. Com o enterro do próprio proprietário, morreu também a combalida funerária e Eternidade seguiu fazendo jus ao seu curioso nome.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

DEGRADAÇÃO


Malas, valises
  Cuecas, reprises,
     Desvios, desmandes,
        Intrigas e crises.

           Truques e tramas,
              Podres poderes,
                 tropeços, trapaças,       
                    lutas de quereres.

                           Grana, dinheiro,
                              gana, influência
                                 status, matreiros
                                    e inconseqüência.

                                           nada se muda,
                                              tudo permanece,
                                                 um pouco desfruta,
                                                    E o povo padece.